16 julho 2006

Uma semana em Samora Correia


Samora Correia, 9 de Julho de 2006


Sai do meu ambiente, com pena, mas compreendendo que não me posso fechar, que não posso resumir-me a permanecer enclausurado no meu mundo. A viagem, quase como umas férias de tudo, irá fazer-me bem, estar sozinho; é verdade que estou em casa de familiares, mas como durante todos os dias da semana estarei completamente só, é como se assim estivesse nestas mini-férias, que não o são, mas que vou aproveitar para por a cabeça no lugar.

…, 10 de Julho de 2006

Cá estou, no meio de um condomínio fechado, ao estilo ‘Algarve’, com tudo muito bonitinho e organizado, a fazer lembrar aqueles filmes americanos, com moradias todas iguais, grande harmonia, muito verde, como que um paraíso perto de Lisboa.
Aproveito sozinho a piscina e o Sol. O astro-rei bronzeia-me, a água azul ondula ao meu olhar e eu sinto-me embalado num passado muito presente, tanto que, ao enfiar-me lá dentro me recorda uma outra piscina, outros ‘Algarves’, esses verdadeiros, em que a companhia me fez passar uns dias de sonho. Hoje, apesar da recordação, que me entristece, me atira ao fundo, não da piscina mas do meu ser, mergulho só, não tenho aqui ninguém para beijar com o toque fresco da água, para acariciar com as mãos húmidas de desejo, para sentir aquecer dentro do líquido da paixão, para partilhar estiradores debaixo de um sol de 40º (é um dos dias mais quentes do ano). Cheguei a estar ali de olhos fechados a imaginar que estava ali, à minha frente, comigo, a abraçar-me e a beijar-me; isto não foi apenas para embelezar a escrita, foi real, fi-lo mesmo… Ai que dor!
Resolvo dar uma volta por aqui para esquecer o que me aflige, mas infelizmente não resulta… o Bel’jardim é mais uma ‘Vilamoura’, terra que guarda momentos felizes, passeios pelo verde nocturno, viagens pelo infinito do, julgava eu, Amor verdadeiro… Aqueles momentos ninguém mos tira, ou melhor, ninguém nos tira, a ambos. Embora saiba que apenas eu os sinto hoje de forma tão especial, tão mágica, como se de uma ilusão bíblica se tratassem. Não melhorou…
Não resisti… Ao telefonar, ouvi a sua voz preocupada com algo que não eu, sem interesse de falar comigo… Sinto-me a mais, sinto-me idiota por não ter evitado e ainda fico pior do que já estava. Porque sou tão idiota?
Mas os erros foram meus, eu é que provoquei certas coisas, não todas, e estou sozinho, sem ti porque errei, porque durante alguns anos meti os dois pés na poça. Se eu tivesse sido diferente, talvez nada disto tivesse acontecido, talvez estivesse agora aqui contigo, a fazer tudo aquilo que me imagino fazer agora, a realizar fantasias prometidas, sonhos fantásticos, a dar-te tudo aquilo que mereces e tu a retribuíres-me… Seria bom, seria feliz, seria tudo… Mas como não é possível, resta-me voltar para perto da piscina, tentar desviar o pensamento de algo que não consigo e aproveitar sozinho aquilo que gostaria de partilhar com alguém muito especial.

Dou então por mim a pensar se o tipo de vida que tenho feito serve para alguma coisa. Sinto eco na minha caminhada, sinto falta do verdadeiro carinho do Amor… É verdade que por momentos achei que o tinha reencontrado, voltei a sonhar com a felicidade, voltei a ver o futuro com alegria nos olhos, voltei, como já o disse, a sentir-me vivo, a rejubilar com ilusões criadas apenas pela minha cabeça, pelo meu interior optimista de uma nova paixão… E já por duas vezes aconteceu…
Mas eis que regresso ao início, ao pensamento numa só pessoa. Ela sim, é quem amo, mesmo depois de tudo. Sei que tenho a capacidade de voltar a amar, de voltar a ter a panóplia louca de emoções que tive por ela e ainda tenho, mas por outras individualidades que povoam a minha vida. Há uma ou duas, eu sei-o, mas nesses casos há factores que não me deixam apostar forte. Ora a distância, ora o desinteresse, ora a minha insegurança, ora a minha loucura de não querer deixar de amar alguém que não interessa agora, alguém que partiu por que quis, que me deixou por achar que não valia a pena continuar a apostar num sentimento que nos moveu durante longos meses, anos… Por tudo isto acho que sou doido varrido, um parvo que ama para não ser amado, que ama alguém que se esforça para não sentir mais que uma ignorância de mim, de nós. Sei-o, sinto-o na sua voz… E pronto, já estou a falar do mesmo.
Pelo que vejo, é mesmo complicado alhear-me desse alguém. Comecei a falar de noutras situações e acabei por voltar ao assunto de sempre, a quem está sempre nos meus pensamentos… Mas porquê?
Não sou feio, há quem me ache bonito, interessante, simpático, inteligente, boa pessoa, aquilo que toda a gente quer… Voltei a ser muito trabalhador, a ter projectos, a ter tudo aquilo que desejei ter; tudo, menos uma coisa, ou melhor uma pessoa. Foi preciso ela sair da minha vida para que os outros projectos voltassem a andar, para que voltasse a ter sonhos de pés assentes no chão. Como se diz, não se pode ter tudo e eu sou a prova vida disso, tenho tudo, mas sem ti não tenho nada. E como diz o outro, resmas, paletes, edredons atrás de mim e logo me vai sair este Amor, agora impossível, que me deixará sozinho durante muito tempo.
Comecei esta deambulação pela questão sobre se vale ou não a pena o tipo de vida que tenho feito. Pois bem, vale, tenho tentado o tudo por tudo para voltar a sorrir, a ser feliz, também mudei muito, dei mostras de uma maturidade que não tinha há cerca de um ano. É verdade que continuo a amar alguém que não me ama, mas isto só mostra mesmo o meu crescimento interior… Quem é vazio, sem força, não ama, apenas vive fugazmente aventuras e envolvimentos de deixa andar, sem sentimentos verdadeiros. Será que eras assim e eu não o vi?
As dúvidas, sempre as dúvidas… A única que coisa sei é que quando a minha vida estabilizar, estarei orgulhoso de mim, pelo que fiz durante este tempo, pelo que senti, pelo que cresci, pelo adulto que, talvez pela primeira vez na minha vida, me tornei. Por tudo isto tenho que te agradecer, desta vez mudei mesmo e foste tu o culpado. Obrigado!

…, 14 de Julho de 2006

Resolvi aproveitar o resto da semana sem pensar em sofrimentos… A piscina, o sol, a onda de calor tropical que nos deu nos últimos dias temperaturas anormalmente altas, noites quentes de Verão. Aproveitei como pude, amanhã acaba esta vida de rico.
Ontem fui matar saudades do meu Bairro Alto, da movida lisboeta. Que linda continua Lisboa à noite, as ruas estreitas, a velhota à janela a ver o movimento, a multidão que prolonga os bares para a rua, a simpatia do people, os amigos reencontrados, as vodkas, os olhares, a beleza… Lisboa e o Bairro são realmente um mundo a que pertenci e nunca deixarei de pertencer, por mais longe que vá.
Também o Chiado continua lá, belo, na sua história, na Brasileira, nas esplanadas, na saída de metro da Baixa/Chiado, na leveza de quem passa, de quem fica, de quem nos olha, de quem olhamos, enfim, de tantos momentos felizes que ali passei; faz lembrar outra praça histórica, essa da minha cidade, mas num universo muito diferente.
Voltar aos locais a que fui no passado tão feliz deixou-me feliz… Ver o show às 3 horas, como sempre, com aquelas músicas, algumas muito nossas (sim, volto a falar para alguém em particular) fez-me olhar várias vezes para trás, procurando alguém que sabia que não estava ali, como esteve noutras grandes noites da minha vida. E foi preciso ir viver para Évora, depois de oito anos, para ser chamado ao palco (lol), o sítio onde tu estiveste duas vezes, nos dois aniversários teus em que fomos lá. Diverti-me muito, mas como foi a primeira vez que voltei a estes sítios depois do terrível acontecimento, tudo aquilo soou a estranho, como que se estivesse ali só metade de mim… Mas é assim a vida! E eu perdi…

E é o fim da tarde do último dia completo que passarei aqui desta vez. Está lindo o clima, quente, limpo, calmo… Ao som da minha rádio, enquanto bebo uma cerveja, guardo a nostalgia de momentos bem passados, felizes, alguns em que recordei o passado feliz que tive. A piscina está parada, o Sol está a esconder-se no silêncio, os pássaros cantam a chegada do crepúsculo, os pinheiros à minha vista balançam levemente com a dança da brisa continental dos dias de Verão. Não se ouve mais do que a rádio e o silêncio da solidão… I belong to you…
Amanhã regresso ao meu mundo, para perto de quem me quer bem e gosta da minha companhia. Tenho saudades, mas vou ter também muitas desta semana de férias, do que aqui fiz, do meu pequeno regresso ao passado, dos meus momentos em que pude reviver… E até de ti vou ter saudades, mas essas sempre as terei.
E regresso com a certeza de que a minha vida irá mudar… Que mais uma vez quero mudar algumas coisas. Terei que o fazer... Amanhã é, mais uma vez, o princípio do resto da minha vida.

…, 15 de Julho de 2006

Acabei por não voltar hoje, só amanhã… E por ter jantado fora, por ter bebido demais acabei por fazer m*rda. Deixei sair o mais profundo do meu ser, o mais básico do sentimento e fiz a maior das porcarias, o maior dos erros.
Eu amo, muito, alguém que já perdi definitivamente, como já devem ter percebido, alguém que não voltará por nada à minha vida. Mas eu amo… Telefonei e telefonei, falei e falei, e para chegar ao cumulo, falei mesmo com o ‘novo’ amor do meu ex-amor… Sou um ridículo que se rebaixa ao mais fundo, sempre e cada vez mais.
Não há nada a fazer, cada vez mais o sinto… Tenho que seguir em frente e pedir que surja outro alguém, melhor, que me faça feliz, que me faça amar, seguir o meu caminho em favor da felicidade. Está cada vez mais a ser difícil para mim… Quando penso estar no caminho certo, há alguma coisa que me atira ao fundo, que me deixa novamente sem rumo, sem saber o que fazer, sem sentir a felicidade que por uma vez na vida tive…

Elogio ao Amor, mas também à dor

Quando amo, o trono celestial é meu, a panóplia louca de sentimentos faz-me viver a maior das demências, o meu coração bate e 200km/h parecendo a 70, o meu sonho eleva-se aos céus, como se fosse alado, tal como Pégaso endoidecido pelo êxtase da paixão, a Lua deixa de ser limite, o Sol é pequeno para libertar o calor da minha insanidade, as estrelas do céu quente de Verão são pouco mais do que pequenos pontos comparados com a minha força interior… Sou mais forte do que tudo, capaz de lutar contra maremotos, terramotos, tufões interiores, buracos negros familiares. Tudo para mim é básico, nada é invencível. Amar é algo demasiadamente forte para que me deixe cair em barrancos de tristeza…
Mas há alturas em que o Amor se esgota… E ficamos com esse sentimento por alguém que nos ignora. Ai vem a dor mais forte… Maior do que a física, maior do que todas as catástrofes do Universo, mais forte do que a morte. Amar alguém que nos deixou de amar, principalmente depois de ver que a culpa é nossa, é como se a nossa vida deixasse de fazer sentido, como se o nosso olhar se esgotasse numa face que nunca nos sairá da íris, como se o nosso coração só batesse por momentos passados, como se os nossos lábios esperassem aqueles que existem no nosso pensamento, como se a nossa boca só existisse para voltar a beijar um alguém que já foi só nosso…
A dor faz com que achemos que apenas nós amamos, que apenas nós sofremos… Talvez assim seja, talvez não, a verdade é que a falta de um verdadeiro Amor nos faz duvidar da própria criação do Universo. Nada daquilo que é certo o é realmente, tudo fica em dúvida, o Mundo, a Lua, o Sol, o Céu, as Estrelas… Nada, para quem sofre na solidão é certo, esperado, previsível, simples, correcto. É como se tudo e todos estivessem condenados a algo que não sabemos, como se a respiração estivesse ligada a monóxidos venosos, como se o ser nada mais fosse do que um arrastar doloroso.
A imaginação voa pelo impossível, os filmes nascem na nossa cabeça para controlar aquilo que não existe…
Amor e dor são o mesmo com uma única diferença, a correspondência ou a falta dela no nobre sentimento.

Amanhã lá volto à estaca zero, à minha casa depois da aposta idiota de quem ama e quer tentar mais uma vez, sabendo que vai voltar a perder. Vou voltar a tentar, não sei se pelo Amor, se pelo novo, se pela tentativa de esquecer. Algo serei, terei, tentarei…

3 comentários:

Anónimo disse...

li no teu post so um pouco do dia 10 de Julho.......nao tenho paciencia para aquele tipo de escrita.
Mesmo que tu negues, o que escreveste é algo para embelezar a escrita e tu dizes que é mentira porque o fazes inconscientemente....

Conselhos:
faz posts mais curtos e ve se poes temas mais interessantes no teu blog...porque até gosto de saber da tua vida..mas parece que tou aqui ha varios dias a comer sempre arroz

Anónimo disse...

talvez fui um pouco duro contigo no comentario anterior...desculpa........
espero que saibas que gosto muito de ti

Rogério Berrucho disse...

foste duro foste... primeiro: eu estou a passar por uma fase complicada; segundo: não escrevo nada para agradar a ninguém, mas sim para desabafar o que sinto; e terceiro: o post é longo pk inclui uma semana inteira de escritos.

;)